5 de janeiro de 2018

Como deveria ser amar...


“…O rio passa ao lado de uma árvore, cumprimenta-a, alimenta-a, dá-lhe água… E vai em frente, dançando. Ele não se prende à árvore. A árvore deixa cair suas flores sobre o rio em profunda gratidão, e o rio segue em frente. O vento chega, dança ao redor da árvore e segue em frente. E a árvore empresta o seu perfume ao vento… Se a humanidade crescesse, amadurecesse, esta seria a maneira de amar..”

#amar #wolfandi #woman #mulher


8 de setembro de 2014

Mulher Selvagem

por Clarissa Pinkola Estes


"Todas nós temos anseio pelo que é selvagem. Existem poucos antídotos aceites por nossa cultura para esse desejo ardente. Ensinaram-nos a ter vergonha desse tipo de aspiração. Deixamos crescer o cabelo e o usamos para esconder nossos sentimentos. No entanto, o espectro da Mulher Selvagem ainda nos espreita de dia e de noite. Não importa onde estejamos, a sombra que corre atrás de nós tem decididamente quatro patas."

"Os lobos saudáveis e as mulheres saudáveis têm certas características psíquicas em comum: percepção aguçada, espírito brincalhão e uma elevada capacidade para a devoção. Os lobos e as mulheres são gregários por natureza, curiosos, dotados de grande resistência e força. São profundamente intuitivos e têm grande preocupação para com seus filhotes, seu parceiro e sua matilha. Tem experiência em se adaptar a circunstâncias em constante mutação. Têm uma determinação feroz e extrema coragem."

"As questões da alma feminina não podem ser tratadas tentando-se esculpi-la de uma forma mais adequada a uma cultura inconsciente, nem é possível dobrá-la até que tenha um formato intelectual mais aceitável para aqueles que alegam ser os únicos detentores do consciente. "

"Não importa a cultura pela qual a mulher seja influenciada, ela compreende as palavras mulher e selvagem intuitivamente.
Quando as mulheres ouvem essas palavras, uma lembrança muito antiga é accionada, voltando a ter vida. Trata-se da lembrança do nosso parentesco absoluto, inegável e irrevogável com o feminino selvagem, um relacionamento que pode ter se tornado espectral pela negligência, que pode ter sido soterrado pelo excesso de domesticação, proscrito pela cultura que nos cerca ou simplesmente não ser mais compreendido. Podemos ter-nos esquecido do seu nome, podemos não atender quando ela chama o nosso; mas na nossa medula nós a conhecemos e sentimos sua falta. Sabemos que ela nos pertence; bem como nós a ela."

"O anseio pela mulher selvagem surge quando nos encontramos por acaso com alguém que manteve esse relacionamento selvagem. Ele brota quando percebemos que dedicamos pouquíssimo tempo à fogueira mística ou ao desejo de sonhar, um tempo ínfimo à nossa própria vida criativa, ao trabalho da nossa vida ou aos nossos verdadeiros amores."

"Quando as mulheres reafirmam seu relacionamento com a natureza selvagem, elas recebem o dom de dispor de uma observadora interna permanente, uma sábia, uma visionária, um oráculo, uma inspiradora, uma intuitiva, uma criadora, uma inventora e uma ouvinte que guia, sugere e estimula uma vida vibrante nos mundos interior e exterior. Quando as mulheres estão com a Mulher Selvagem, a realidade desse relacionamento transparece nelas. Não importa o que aconteça, essa instrutora, mãe e mentora selvagem dá sustentação às suas vidas interior e exterior."

"De que maneira a Mulher Selvagem afeta as mulheres? Tendo a Mulher Selvagem como aliada, como líder, modelo, mestra, passamos a ver, não com dois olhos, mas com a intuição, que dispõe de muitos olhos. Quando afirmamos a intuição, somos, portanto, como a noite estrelada: fitamos o mundo com milhares de olhos."

"0 arquétipo da Mulher Selvagem, bem como tudo o que está por trás dele, é o benfeitor de todas as pintoras, escritoras, escultoras, dançarinas, pensadoras, rezadeiras, de todas as que procuram e as que encontram, pois elas todas se dedicam a inventar, e essa é a principal ocupação da Mulher Selvagem. Como toda arte, ela é visceral, não cerebral. Ela sabe rastrear e correr, convocar e repelir. Ela sabe sentir, disfarçar e amar profundamente. Ela é intuitiva, típica e normativa. Ela é totalmente essencial à saúde mental e espiritual da mulher."

"E então, o que é a Mulher Selvagem? Do ponto de vista da psicologia arquetípica, bem como pela tradição das contadoras de histórias, ela é a alma feminina. No entanto, ela é mais do que isso. Ela é a origem do feminino. Ela é tudo o que for instintivo, tanto do mundo visível quanto do oculto - ela é a base. Cada uma de nós recebe uma célula refulgente que contém todos os instintos e conhecimentos necessários para a nossa vida.
Ela é a força da vida-morte-vida; é a incubadora. É a intuição, a vidência, é a que escuta com atenção e tem o coração leal. Ela estimula os humanos a continuarem a ser multilíngües: fluentes no linguajar dos sonhos, da paixão, da poesia. Ela sussurra em sonhos noturnos; ela deixa em seu rastro no terreno da alma da mulher um pêlo grosseiro e pegadas lamacentas. Esses sinais enchem as mulheres de vontade de encontrá-la, libertá-la e amá-la.
Ela é ideias, sentimentos, impulsos e recordações. Ela ficou perdida e esquecida por muito, muito tempo. Ela é a fonte, a luz, a noite, a treva e o amanhecer. Ela é o cheiro da lama boa e a perna traseira da raposa. Os pássaros que nos contam segredos pertencem a ela. Ela é a voz que diz, "Por aqui, por aqui".
Ela é quem se enfurece diante da injustiça. Ela e a que gira como uma roda enorme. É a criadora dos ciclos. É à procura dela que saímos de casa. É à procura dela que voltamos para casa. Ela é a raiz estrumada de todas as mulheres. Ela é tudo que nos mantém vivas quando achamos que chegamos ao fim. Ela é a geradora de acordos e ideias pequenas e incipientes. Ela é a mente que nos concebe; nós somos os seus Pensamentos."

"Se as mulheres querem que os homens as conheçam, que eles realmente as conheçam, elas têm de lhes ensinar algo do seu conhecimento profundo. Algumas mulheres dizem que estão cansadas, que já se esforçaram demais nessa área. Sugiro humildemente que elas estiveram tentando ensinar um homem sem vontade de aprender. A maioria dos homens quer saber, quer aprender. Quando os homens demonstram essa disposição, é a hora de fazer revelações; não apenas a esmo, mas porque mais uma alma perguntou. "

"0 companheiro certo para a Mulher Selvagem é aquele que tem uma profunda tenacidade e resistência de alma, aquele que sabe mandar sua própria natureza instintiva ir espiar por baixo da cabana da alma de uma mulher e compreender o que vir e ouvir por lá. O bom partido é o homem que insiste em voltar para tentar entender, é o que não se deixa dissuadir."

"Portanto, a tarefa primitiva do homem consiste em descobrir os nomes verdadeiros da mulher, não em usar indevidamente esse conhecimento para ganhar controle sobre ela, mas, sim, para captar e compreender a substância luminosa de que ela é feita, para deixar que ela o inunde, o surpreenda, o espante e até mesmo o assuste. Também para ficar com ela. Para entoar seus nomes para ela. Com isso os olhos dela brilharão. E os dele também."

"É bom ter muitas pessoas, coleccioná-las, costurar algumas, recolhê-las à medida que avançamos na vida. Quando vamos envelhecendo cada vez mais, com uma colecção dessas à nossa disposição, descobrimos que podemos ser qualquer coisa, a qualquer hora que desejemos."

23 de agosto de 2014

No Regrets

...escrevo com a mão direita enquanto o meu braço esquerdo segura o meu «mais que tudo», o meu filho , que serenamente me dorme ao colo... (como enche a alma escrever, dizer uma palavra tão pequena - filho - sobre um ser que reflecte, gera, um sentimento tão grande e um amor tão maior)
...e um flash back intercalado por imagens de «o que poderá vir a ser» me invadem, me inundam , me assaltam... quase me rasgam com um sabor agri-doce...
Há momentos que temos nas nossas vidas vontade de dizer «basta», de mudar, de um turning point, em diferentes frentes em simultâneo e por vezes a gestão de todo o turbilhão é dolorosa e quase cruel porque, no meu caso pelo menos, levantam poeiras velhas e «esquecidas» (ou não tão esquecidas...), alicia-nos a não querer «largar » coisas e pessoas que nunca foram nossas, que nos fazem mal ou no mínimo não nos fazem bem, momentos que nos convidam talvez a renunciar a esse querer «mais», a essa ambição de não querer ser comum, medíocre, normal... ou melhor normal é bom! mas não sub normal como ao que tantos se acomodam ... momentos em que por não nos deixarmos aliciar por essa  mudança para parâmetros e pessoas mais adaptados, controlados e defensores também de regras suaves, de regras  seguras seja profissional ou pessoal, no amor ou na perspectiva de futuro, tudo se põe em causa ainda que apenas em flashes mas que nos fazem tal como hoje parar... e pensar...

Ontem alguém me enviou umas frases que provocaram este fim de sábado inquieto, grato e... tranquilizador!

(...) porque é que havia de me sentir sozinho? raras vezes na minha vida, desde que me lembro de mim, tive um sentimento de solidão. e não me sinto mal na minha companhia, divertimo-nos muito os dois, eu e eu. não me aborreço. (...)
(...) aos 40, sei que a 'felicidade' é uma hipótese estatisticamente improvável  ou efémera . aos 40 anos, vivo com 'expectativas diminuídas', diminutas, em diminuição. já sei que não sou melhor nem pior do que os outros, sei ao milímetro aquilo que valho, sei perfeitamente que não vou deixar vestígio, que desapareço quando morrer a última pessoa que me conheceu. e nada disto é trágico. pessimista e misantropo, é verdade que que vou ficando sozinho. mas, aos 40 anos, não compreendo esse medo de ficar sozinho, que me inquietava ainda aos 33. (...)
(...) ficamos sozinhos quando somos exigentes. ficamos sozinhos quando não mentimos.
ficamos sozinhos quando defendemos as nossas convicções. é um preço que estou disposto a pagar. e há, digamos, dez pessoas de quem gosto, dez pessoas sobre quem não me enganei, e dez pessoas é um mundo.." (...)
frases de Pedro Mexia e Lobo Antunes

Tanta verdade que dói!

A ignorância é bem melhor companheira para quem ambiciona uma vida tranquila... o «caminho caminhado» leva-me sempre à imagem de um miradouro em que de longe e do alto podemos ver cada «luzinha» piscando - cada momento, desafio, lição ou pessoa importante nas nossas vidas - , em que do alto e sem dramas nem sofrimento, sem paixões nem euforias, vemos como se pagam e se acendem várias dessas «luzinhas»... é isso a vida! - novos desafios, velhos que se acabam, novas pessoas, pessoas que se vão,... - , e nesse miradouro aprecia-se esse jogo dessas mesmas «luzes», a beleza do reflexo nos rios que correm, as torres e outros contornos da cidade em que a lua se esconde e atrás dos quais vaidosamente se mostra também.... e o apreciamos tanto mais quanto maior e mais iluminada é essa imagem... cada pessoa, cada momento, cada desafio, cada loucura, cada paixão, cada conquista...

Tanta verdade que dói!

... e não há conclusões fundamentalistas a que se possam chegar... é constante a mudança e deve ser também a adaptação à mesma...

Hoje treino e canto e amanhã espero, como figura principal, dançar a canção da minha vida, sozinha e exigente e/ou  acompanhada da multidão de 10, mãe, mulher, filha, amiga, neta, irmã, amante - My Way! My own way!



22 de agosto de 2014

Poesia Roubada.... How Does It Feel?

Não me apetece escrever... não me sento a tentar...
não consigo parar de ansiar mais e mais de tudo... de música, de poesia, de «essas coisas» que nos inquietam e nos ... inspiram (talvez)...
... e então vou «roubando» e «partilhando» algumas de outros como esta.
É tão perfeito... a letra, a música, ouvir-se «lá longe» o saxofone... ela, a expressão, o pé descalço... até a cor do vestido!
Acho que se é mesmo verdade: if love had a sound, this would be it!

Poetry: How Does It Feel? 
Akua Naru

if love had a sound, this would be that sound. love. love, we would be the band to play it. my ghetto butterfly flew away from me, i wait patiently. by windows and doorsteps, play make believe as my tears pour to my chest. won't succeed to breathe if not the hear of you. surely there hasn't never been a shade so blue. a stank attitude, so not mad at you. not a magnitude to encompass the latitude of my love for you. no space or time compatible. what do i have to do. what do i have to do. my friends say i got it bad for you. i do. but there's nothing in this world i would rather do, but you.

hey, i want to make love to your existence. drenched in the colors of your energy, then masturbate to the memories. i wanna lose myself inside yourself. until you find me, confine me, to the freedom, of your prison. exist in the same space, same time. combine. until your thoughts slow grind with mine.combine. until your thoughts slow grind with mine. combine. until your thoughts slow grind with mine.

my, i want to drink the sweat off your intellect. reflect, and watch your light passion off my neck. caress the sight of your presence with no question. undress, to the nakedness of love, pure love. i want to make love to my soul mate. my soul mate. make love to my soul mate. my soul mate. make love to my soul mate. shit.

i wonder how does it feel to make love to your soul mate. kind of like writing poetry till climax. till the point and place where our space and time match, and we, cross divine paths. tell me would you like that. how would like that. tell me would you like that. now would you like that. tell me would you like that. would you like that. tell me.

i wanna love you more than madly. wrap these legs, around your words. until your speech is straddled deep, gladly. swim the currents of your vibrations. be separate and one. with the same meditation. with the same meditation. this is poetry.






13 de agosto de 2014

Fare Thee Well

Fare thee well my bright star
 I watched your taillights blaze into nothingness
 But you were long gone before I ever got to you
 Before you blazed past this address
And now I think of having loved and having lost
 You never know what it's like to never love
 Who can say what's better and my heart's become the cost?
 A mere token of a brighter jewel sent from above
Fare thee well my bright star
 The vanity of youth the color of your eyes
 And maybe if I'd fanned the blazing fire of your day-to-day
 Or if I'd been older I'd been wise
But too thick the heat of those long summer evenings
 For a cool evening I began to yearn
 But you could only feed upon the things which feed a fire
 Waiting to see if I would burn
Fare thee well my bright star
 It was a brief brilliant miracle dive
 That which I looked up to and I clung to for dear life
 Had to burn itself up just to make itself alive
And I caught you then in your moment of glory
 Your last dramatic scene against a night sky stage
 With a memory so clear that it's as if you're still before me
 My once in a lifetime star of an age
So fare thee well my bright star
 Last night the tongues of fire circled me around
 And this strange season of pain will come to pass
 When the healing hands of autumn cool me down
 

 

11 de agosto de 2014

"Em busca de um homem sensível" - Anais Nin

 «No último ano passei a maior parte do meu tempo nas Universidades, em companhia de mulheres jovens que preparavam suas teses de doutoramento sobre a minha obra. A discussão sobre o meu Diário sempre desembocava em conversas íntimas e pessoais sobre as suas próprias vidas. Assim, percebi que os ideais, os fantasmas e os desejos dessas mulheres estavam passando por uma transição. Inteligentes, bem-dotadas, integradas nas atividades de seu tempo e na criação, elas pareciam já ter superado a atração exercida pela concepção convencional da virilidade. Elas já tinham aprendido a criticar o "macho" autentico, com sua falsa masculinidade, sua força física, sua aptidão para o esporte, sua arrogância, e o que é mais grave, sua falta de sensibilidade. O herói de O Último Tango em Paris causava-lhes repulsa. O sádico, o homem que humilha a mulher para demonstrar um poder de fachada. Os chamados heróis, como na literatura de Hemingway ou Mailer, essa força ilusória. É o que denunciavam e recusavam essas novas mulheres, inteligentes demais para serem enganadas, muito espertas e orgulhosas para se sujeitarem a esse aparato de poder que, em vez de protegê-las (como acreditavam as gerações anteriores), comprometia suas existências individuais. Elas se voltavam para o poeta, o músico, o cantor, seu colega de estudos sensível - o homem natural, sincero, sem arrogância, sem ostentação, interessado pelos valores reais e não pela ambição, aquele que odeia a guerra, a cupidez, o mercantilismo e o oportunismo político. Enfim, um novo tipo de homem para um novo tipo de mulher. Eles se ajudaram um ao outro na Universidade, dedicaram-se poemas, cartas íntimas onde se abriam um ao outro, eles reconheceram o valor de seu amor, consagraram-lhe tempo, atenção e cuidados. A sensualidade impessoal nunca os interessou. Ambos desejavam fazer apenas o que gostavam. Encontrei muitos casais que cabiam nessa descrição. Um não dominava o outro. Eles partilhavam as diferentes tarefas, cada um executando a que mais lhe convinha, sem papeis fixos ou limites. A gentileza era seu traço comum. Não havia "cabeça" do casal nem responsável pelo sustento da casa. Eles aprenderam a arte sutil tão humana da oscilação. Força e fraqueza não são qualidades imutáveis. Todos nós temos nossos dias de força e de fraqueza. Eles tinham a noção da harmonia, da maleabilidade, da relatividade. Cada um contribuía com o seu saber e suas próprias intuições. Nesses casais não há guerra de sexos. Nem contratos baseados nas regras do matrimonio. A maioria não sente necessidade de se casar. Alguns desejam filhos, outros não. Ambos têm consciência da função do sonho - não como um sintoma de neurose, mas como indicadores da nossa natureza secreta. Eles sabem que um e outro têm qualidades masculinas e femininas. Algumas destas mulheres eram objetos de uma nova angustia. Como se, tendo vivido tanto tempo sob o domínio direto ou indireto do homem (que determinava seu estilo de vida, seus modelos e deveres), elas tivessem se acostumado; e quando isso acabou, que elas estavam livres para tomar decisões, mudar, exprimir seus desejos e dirigir suas próprias vidas se sentiam como barcos sem leme. Vislumbrei essas duvidas em seus olhos. Será que elas deveriam considerar a sensibilidade como gentileza excessiva? A tolerância como fraqueza? Faltava-lhes essa autoridade, essa coisa mesma contra a qual tinham lutado tanto. Afinal, a rotina se instalara há tanto tempo. Mulheres dependentes. Algumas independentes, mas tao poucas em relação às dependentes. E a oferta de um amor total era tão rara. Um amor sem egocentrismo, sem exigências, sem restrições morais. Um amor que não definisse as obrigações das mulheres (você tem de fazer isto e aquilo, me ajudar no meu trabalho e apoiar e estimular a minha carreira). Um amor eqüitativo. Sem tiranias nem ditadores. Estranho. Todo novo. Como um país novo. Não se pode ter ao mesmo tempo dependência e independência. Podemos alterná-las, de tal modo que elas cresçam sem entraves nem obstáculos. O homem sensível tem consciência das necessidades das mulheres. Ele procura deixá-la existir por si mesma. Mas às vezes as mulheres não percebem que os elementos que lhes faltam são exatamente os que impediam sua expansão, sua mobilidade, sua evolução. Elas confundem sensibilidade com fraqueza. Talvez porque falte ao homem sensível a agressividade do "macho" (agressividade que o empurra para a política, os negócios, às expensas de sua vida familiar e das relações pessoais). (...) A antiga posição do homem obcecado pelos negócios, cuja duração da vida era reduzida por uma constante tensão nervosa e terminava com a aposentadoria, foi completamente transformada por uma jovem esposa que encorajava seu "hobby", a pintura, a ponto de levá-lo a se aposentar mais cedo, para poder se dedicar à arte e às viagens. Nestas situações, nota-se um esforço para conciliar os interesses, em vez da antiga insistência imatura nas diferenças irrecuperáveis. Com a maturidade vem a convicção de que as atividades se interligam e alimentam umas às outras. Uma outra fonte de espanto para a nova mulher é a constatação de que muitos dos novos homens não têm mais aquela antiga ambição. Eles não querem perder sua vida à procura da fortuna. Querem viajar enquanto são jovens e viver o presente. Encontrei-os viajando de carona na Grécia, na Itália, na Espanha e na França. Eles viviam totalmente o presente, e aceitavam a fadiga em nome das aventuras vividas. (...)
 A pergunta que as mulheres jovens mais me fazem é a seguinte: como pode uma mulher criar uma vida própria quando é a profissão do marido que comanda sua maneira de viver? Médico, advogado, psicólogo ou professor, é a profissão do marido que determinará o lugar onde devem morar, e, portanto o meio onde conviverão. A conhecida pintora e professora Judy Chicago descobriu, num estudo sobre pintoras, que, enquanto todos os homens tinham seus ateliês separados da casa, as mulheres eram obrigadas a trabalhar na cozinha ou em outra peça da própria casa. Mas muitas mulheres levaram ao pé da letra o titulo de Virginia Woolf, A Room of One's Own (Um Quarto só para Si) e alugaram ateliês separados da residência familiar. Um casal que vivia numa casa de uma só peça instalou uma tenda no terraço para a mulher poder escrever. Mesmo o sentimento de "ir trabalhar", o ato físico de se separar, o sentido de valor que o isolamento confere ao trabalho, tornam-se um estimulo e ajuda. Criar uma nova vida não significava para elas um afastamento ou uma separação. É impressionante como qualquer ruptura ou separação comporta, para a mulher, uma idéia de perda, como se o cordão umbilical simbólico ainda comandasse a sua vida afetiva, como se cada ato constituísse uma ameaça à unidade e aos vínculos. Esse temor próprio das mulheres e não dos homens, foi-lhes, no entanto, inculcado pelos homens. Levados pelas ambições, absorvidos e submersos pelas suas profissões, os homens sempre se separavam de suas famílias e estiveram menos presentes juntos aos filhos. Mas o que aconteceu com eles não tem necessariamente de se reproduzir com as mulheres. São nos sentimentos que residem os vínculos indissolúveis. Não nas horas passadas com o marido e as crianças, mas na qualidade e na plenitude dessa presença. O homem está quase sempre fisicamente presente e mentalmente ausente. A mulher é bem mais capaz de deixar de lado o seu trabalho para se consagrar a um marido exausto ou a um dedo machucado de um filho. (...) Para a nova mulher, assim como para o novo homem, a arte de aliar e conciliar interesses opostos será um desafio. As mulheres de hoje não querem mais um marido inexistente, casado com o Big Business; elas estão dispostas a aceitar uma vida mais simples, que lhes permita aproveitar mais um marido cujo sangue não foi sugado pelas grandes companhias. As novas mulheres renunciam cada vez mais ao luxo. Gosto de vê-las vestidas com simplicidade, descontraídas, naturais, sem máscara. Mas a fase de transição colocou um problema delicado para as mulheres: como deixar de ser dominada, sem identidade, como se unir ao outro sem perder sua identidade? O novo homem tem ajudado bastante porque ele também quer mudar, passar da rigidez à flexibilidade, da mentalidade atrasada a uma mentalidade aberta, dos papéis desconfortáveis à ausência tranqüila de papéis. Uma jovem recebeu certa vez um convite para ser professora em outra cidade. O casal não tinha filhos. O jovem marido disse: "Vá, se é isso que você quer". Se ele não tivesse concordado com essa proposta, que lhe permitia avançar na carreira, ela teria se ressentido. Como ele a deixou partir, ela pensou que ele não a amava o suficiente para retê-la. Ela partiu com a impressão de estar sendo abandonada, e ele também ficou com a impressão de ter sido abandonado. Esses sentimentos ficaram completamente inconscientes. Esta separação de quatro meses poderia ter causado uma ruptura. O que só não aconteceu porque eles acabaram falando sobre esses sentimentos e rindo de suas ambivalências e contradições. Se no inconsciente ainda temos reações impossíveis de controlar, poderemos pelo menos impedi-las de nos prejudicar no presente. Se ambos, inconscientemente, ainda podiam ter medo de serem abandonados, tinham de descobrir um de se libertar do seu comportamento infantil. Escravos de seus terrores infantis, eles nunca teriam podido deixar suas casas. Ao confessarem seus temores, acabaram rindo dessa inconseqüência: querer ao mesmo tempo ser livre e controlado pelo outro. Em geral, a afirmação das diferenças na nova mulher emergente está fortemente marcada por uma impressão de dissonância e de falta de harmonia, mas trata-se apenas de um problema de relações, como na relação entre arte ciência, ciência e psicologia ou religião e ciência. Não são as semelhanças que criam harmonia, mas a arte de combinar entre seus variados elementos que enriquecem a vida. As atividades profissionais costumam exigir um excesso de concentração, o que limita a experiência pessoal. A introdução de novas correntes de pensamento, ao alargar o campo de interesses, é benéfica para homens e mulheres. Talvez certas mulheres novas e certos homens novos tenham medo da aventura e da mudança. Margaret Mead, que procurou um marido que partilhasse de sua paixão pela antropologia, acabou tendo de se dedicar ao estudo do nascimento e da educação das crianças, enquanto o marido se consagrava aos mitos e lendas das tribos. Um interesse comum nem sempre é sinônimo de igualdade. Todos carregamos dentro de nós a semente das ansiedades infantis, mas a vontade de viver com os outros em perfeita harmonia levou-nos a aprender a "integrar as diferenças". Quando observo esses jovens casais, que resolveram os problemas colocados por esta nova consciência e pelas novas posições, sinto que talvez estejamos chegando a uma era de humanismo em que as diferenças e desigualdades serão vencidas sem guerras. Yoko Ono propôs a "feminização da sociedade. A utilização das qualidades femininas como força para mudar o mundo... Evoluir em vez de se revoltar". A capacidade de empatia que os novos homens tem demonstrado com relação as mulheres vem da aceitação, por sua parte, do aspecto afetivo, intuitivo, sensorial e humano de seu próprio comportamento. Eles se permitem chorar (um homem nunca chora), expor sua vulnerabilidade, confessar seus fantasmas e partilhar a sua mais profunda intimidade. Certas mulheres estão confusas com esse novo convívio. Elas ainda não perceberam que para chegar a empatia é preciso sentir até certo ponto o que o outro sente. Isto significa que, se a mulher pretende afirmar sua criatividade e seu talento, o homem tem de demonstrar, por sua vez, sua aversão pelo que se esperava dele no passado. Esse novo tipo de homem jovem que tenho encontrado adapta-se muito bem a nova mulher, mas ela ainda não sabe apreciar completamente sua ternura, sua proximidade cada vez maior com a mulher, seu desejo de semelhança e não de diferença. Todo povo que viveu algum tempo sob uma ditadura em geral é incapaz de se governara si mesmo logo em seguida. Esta incapacidade é transitória: ela pode significar o início de uma vida e de uma liberdade totalmente novas. Aí está o homem. Ele é igual a você. Ele a trata como um igual. Nos momentos de incerteza você ainda pode discutir com ele certos problemas sobre os quais não poderia falar a vinte anos atrás. Como eu costumo dizer as mulheres de hoje - sobretudo não confundam sensibilidade com fraqueza. Esse erro quase levou nossa civilização a ruína. A violência foi confundida com o poder, e o abuso do poder com a força. A submissão ainda aparece em filmes, no teatro, nos meios de comunicação. Gostaria que o herói de O Último Tango em Paris tivesse morrido logo. E ele só morre no fim do filme. Toda a duração de um filme! Será que as mulheres precisarão de tanto tempo para perceber o sadismo, a arrogância, a tirania, tão dolorosamente presentes no mundo, na guerra e na corrupção? Iniciemos uma nova era de honestidade, de confiança, sem falsidade nas nossas relações pessoais; a história do mundo e o desenvolvimento das mulheres sairão ganhando.»

Anais Nin, "Em busca de um homem sensível", Publicado em Playgirl, Setembro de 1974

30 de julho de 2014

I Fall in Love Too Easily

(...) Sammy Cahn has said of the conception of the sixteen-bar song: "This song was written one night in Palm Springs. When I sang the last line, Jule Styne looked over at me and said, 'So. That's it.' I knew he felt we could have written on, but I felt I had said all there was to say, and if I had it to do over, I would stop right there again." (...) 
in Wikipédia


28 de julho de 2014

Grito Silenciado

«Turning point» é aquele ponto em que não há mais nada a fazer.
É aquele momento em que decides rebentar, morrer, definhar... ou simplesmente mudar.
Mas não necessariamente é pacifico, aliás é sempre doloroso já que a mudança é dolorosa.
Com certeza existe-os com serenidade e tranquilidade de simplesmente perceber que vamos seguir por outra direcção, mas existe este em que a raiva, a dor, a incerteza e a coragem fazem uma mistura que parece rasgar qualquer resto de esperança e serenidade. Existe este que trás a vontade de um grito! Grito esse silenciado pela boa educação e a dita «consciência» da necessidade de domar vontades de expressão deste mau estar.
Sei que o tempo desvaloriza estes momentos - a vida ensina-nos isso. Nada acontece por acaso.
Também esses momentos com o tempo são armas e ferramentas usáveis para outros talvez piores ou melhores porque podem contar com esta experiência...
... mesmo assim, no auge dele há a vontade incontrolável de um grito de dor, de cansaço e desanimo, de um grito de guerra e coragem e força e esperança e, aquilo que é preciso, vontade de mudar agora aqui para sempre!

15 de abril de 2014

basorexia

(n.) vontade incontrolável de beijar

10 de outubro de 2013

Mágoa

 [...] Está para lá da tristeza, da solidão, do desejo de lutar pelo que já se perdeu, da raiva de não ter o que mais se queria, da pena de ter deixado fugir um grande amor, por ser demasiado grande.
Primeiro grita-se, barafusta-se, soluça-se em catadupas, fazem-se esperas, mandam-se flores, livros sublinhados, convocam-se os amigos para em quórum planearem connosco uma estratégia de recuperação, sente-se aos solavancos e come-se sem mastigar, num torpor raivoso e revoltado. A vida vai mais depressa do que nós, passa-nos por cima e os dias comem-se uns aos outros. Só queremos que o tempo corra para nos apaziguar a dor e acalmar os papos nos olhos.
Depois é o pós-guerra, a rendição, a entrega das armas e as sentenças de um tribunal marcial interior, em que os juízes são a vida e o réu, o que fizemos dela.
Limpam-se os destroços, enterram-se os mortos, tratam-se os feridos que são as nossas feridas, feitas de saudades, desencontros, palavras infelizes e atitudes insensatas, medos, frustrações e tudo o que não dissemos. Há quem se rodeie de amigos, durma com antigos casos, se enrole numa manta de xadrez e se torne o mais fiel cliente do clube de vídeo da esquina. Há quem tome calmantes, absorva vodka em noitadas vazias como uma esponja inútil, se mude outra vez para casa da mãe, ou parta em uma viagem para um local turisticamente muito apetecível.
O pior é quando se chega lá, apetece tudo menos lá ficar. Percebemos que não há longe nem distância para a dor, e que nenhum amante, amigo, mãe, irmão, droga ou bebida matam a saudade do que já fomos ou de quem já tivemos nos braços.
A mágoa chega então, quando o cansaço já não nos deixa sentir mais nada. É silenciosa e matreira, instala-se sem darmos por ela, aloja-se no coração e começa a deixar sinais aqui e ali, dentro de nós. A pouco e pouco sentimos que já não somos a mesma pessoa.
As cicatrizes podem esbater-se com os anos e ser remendadas com hábeis golpes de plástica, mas ficarão para sempre debaixo dos excertos que fazemos à alma.
O cansaço mata tudo. A raiva de não termos quem tanto amámos, a fúria de não sermos donos da nossa vontade, o orgulho de termos perdido quem mais queríamos. Só não mata as saudades e a vontade de continuar a sonhar que um dia pode mudar outra vez e libertar-nos de nós mesmos e do sofrimento, tão grande quanto involuntário, tão patético quanto verdadeiro.
Às vezes, quando a mágoa é enorme e sufoca, vegetamos em silêncio para que ela não nos coma. Fingimos que está tudo bem, rimo-nos de nós próprios perante os outros e até mesmo perante o outro que vive dentro de nós. Tornamo-nos espectadores da nossa dor. Afastamo-nos de nós, do que somos, daquilo em que acreditamos. No fundo estamos a desistir, como quem volta atrás porque tem medo do escuro, vencidos pela desilusão cansadas de esperar em casa que o mundo pare e se lembre de nós.
Mas o mundo nunca pára. Nada pára. A vida foge, os dias atropelam-se, é preciso continuar a vivê-los, mesmo com dor, mesmo com mágoa. Pelo menos a mágoa magoa, faz-nos sentir vivos.
Arde no peito e no orgulho, mas pouco a pouco vai matando a dor.
Torna-se a nossa companheira mais próxima, deixando de nos defender da tristeza que se vai consumindo como uma vela esquecida num presépio morto que uma corrente de ar ou um novo sopro de vida um dia apagará. Mas isso só é possível quando conseguirmos esquecer."  [...]

(desconheço o autor)


3 de outubro de 2013

As Mulheres Têm Fios Desligados - António Lobo Antunes‏


Há uns tempos a Joana
- Pai, acabei um namoro à homem.
Perguntei como era acabar um namoro à homem e vai a miúda
-Disse-lhe o problema não está em ti, está em mim.
O que me fez pensar como as mulheres são corajosas e os homens cobardes. Em primeiro lugar só terminam uma relação quando têm outra. Em segundo lugar são incapazes de
- Já não gosto de ti
de
- Não quero mais
chegam com discursos vagos, circulares
- Preciso de tempo para pensar
- Não é que não te amo, amo-te, mas tenho de ficar sozinho umas semanas
ou declarações do género de
- Tu mereces melhor do que eu
- Estive a refletir e acho que não te faço feliz
- Necessito de um mês de solidão para sentir a tua falta
e aos amigos
- Dá-me os parabéns que lá me consegui livrar da chata
- Custou-me mas foi
- Amandei-lhe daquelas lérias do costume e a gaja engoliu
- Chora um dia ou dois e passa-lhe
e pergunto-me se os homens gostam verdadeiramente das mulheres. Em geral querem uma empregada que lhes resolva o quotidiano e com quem durmam, uma companhia porque têm pavor da solidão, alguém que os ampare nas diarreias, nos colarinhos das camisas e nas gripes, tome conta dos filhos e não os aborreça. Não se apaixonam: entusiasmam-se e nem chegam a conhecer com quem estão. Ignoram o que ela sonha, instalam-se no sofá do dia a dia, incapazes de introduzir o inesperado na rotina, só são ternos quando querem fazer amor e acabado o amor arranjam um pretexto para se levantar
(chichi, sede, fome, a janela de que se esqueceram de baixar o estore)
ou fingem que dormem porque não há paciência para abraços e festinhas,
pá, e a respiração dela faz-me comichão nas costas, a mania de ficarem agarradas à gente, no ronhónhó, a mania das ternuras, dos beijos, quem é que atura aquilo? Lembro-me de um sujeito que explicava
- O maior prazer que me dá ter relações com a minha mulher é saber que durante uma semana estou safo
e depois pegam-nos na mão no cinema, encostam-se, colam-se, contam histórias sem interesse nenhum que nunca mais terminam, querem variar de restaurante, querem namoro, diminutivos, palermices e nós ali a aturá-las. O Dinis Machado contava-me de um conhecedor que lhe aclarava as ideias
- As mulheres têm fios desligados
e um outro elucidou-me que eram como os telefones: avariam-se sem que se entenda a razão, emudecem, não funcionam e o remédio é bater com o aparelho na mesa para que comecem a trabalhar outra vez. Meu Deus, que pena me dão as mulheres. Se informam
- Já não gosto de ti
se informam
-Não quero mais
aí estão eles a alterarem a agressividade com a súplica, ora violentos ora infantis, a fazerem esperas, a chorarem nos SMS a levantarem a mãozinha e, no instante seguinte, a ameaçarem matar-se, a perseguirem, a insistirem, a fazerem figuras tristes, a escreverem cartas lamentosas e ameaçadoras, a entrarem pelo emprego dentro, a pegarem no braço, a sacudirem, a mandarem flores eles que nunca mandavam flores, a colocarem-se de plantão à porta dado que aquela puta há-de ter outro e vai pagá-las, dispostos a partes-gagas, cenas ridículas, gritos. A miséria da maior parte dos casais, elas a sonharem com o Zorro, com o Che Guevara ou eles a sonharem com o decote da vizinha de baixo, de maneira que ao irem para a cama são quatro: os dois que lá se deitam e os outros dois com quem sonham. Sinceramente as minhas filhas preocupam-me: receio que lhe caia na sorte um caramelo que passe à frente delas nas portas, não lhes abra o carro, desapareça logo a seguir por chichi-sede-fome-persiana-mal-descida-e-os-ladrões-percebes, não se levante quando entram, comece a comer primeiro e um belo dia
(para citar noventa por cento dos escritores portugueses)
- O problema não está em ti, está em mim
a mexerem na faca à mesa ou a atormentarem a argola do guardanapo, cobardes como sempre. Não tenho nada contra os homens: até gosto de alguns. Dos meus amigos. De Shubert. De Ovídio. De Horácio, de Virgílio. De Velásquez. De Rui Costa. De Einzenberger. Razoável, a minha coleção. Não tenho nada contra os homens a não ser no que se refere às mulheres. E não me excluo: fui cobarde, idiota, desonesto.
Fui
(espero que não muitas vezes)
rasca.
Volta e meia surge-me na cabeça uma frase de Conrad em que ele comenta que tudo o que a vida nos pode dar é um certo conhecimento dela que chega tarde demais. Resta-me esperar que ainda não seja tarde para mim. A partir de certa altura deixa-se de se jogar às cartas connosco mesmos e de fazer batota com os outros. O problema não está em ti, está em mim, que extraordinária treta. Como os elogios que vêm logo depois: és inteligente, és sensível, és boa, és generosa, oxalá encontres etc., que mulher não ouviu bugigangas destas? Uma amiga contou-me que o marido iniciou o discurso habitual
- Mereces melhor que eu
levou como resposta
- Pois mereço. Rua.
Enfim, mais ou menos isto, e estou a ver a cara dele à banda. Nem uma lágrima para amostra. Rua. A mesma lágrima para amostra. Rua. A mesma amiga para uma amiga sua
- O que faço às cartas de amor que me escreveu?
e a amiga sua
- Manda-lhas. Pode ser que lhe façam falta.
Fazem de certeza: é só copiar mudando o nome. Perguntei à minha amiga
- E depois de ele se ir embora?
- Depois chorei um bocado e passou-me.
Ontem jantámos juntos. Fumámos um cigarro no automóvel dela, fui para casa e comecei a escrever isto. Palavra de honra que na janela uma árvore a sorrir-me. Podem não acreditar mas uma árvore a sorrir-me.

Como é que se Esquece Alguém que se Ama?


Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'



9 de julho de 2013

Lonely Can Be Sweet


Please, come sit down
I need to set you straight before we go any further

I've learned from loneliness
That lonely can be bitter and lonely can be sweet
Sure, I know I don't need a man to be complete
and I also know that what I want and what I need don't always meet
But being alone ain't all that bad cause see
I've been there and I've done that
I'm in the midst of an evolution of myself
I was tired of the search, so had to sit it on the shelf

Lonely can be sweet, lonely can be sweet
My soul's music, my life beat
Lonely can be sweet, lonely can be sweet, lonely can be sweet
My soul's music, my life beat
Lonely can be sweet

I haad been looking for my cowboy, like that girl says in that song
Where have all the cowboys gone
In my former life my once cowboys have gone hoochie hopping and car shopping
riding their egos like wild horses
or collision courses with their machismo, while I slow slaughtered
as their valor and virtue drowned in deep water, deep water
So I decided to chill with me for the moment and play my own violins
And strike my own candlelight
So every night is my night

Lonely can be sweet, lonely can be sweet
My soul's music, my life beat
Lonely can be sweet, lonely can be sweet, lonely can be sweet
My soul's music, my life beat
Lonely can be sweet

Are you listening
I need to be completely sure that you're listening

I used to think that the moons name might as well have been Lonely
Now I sip my night full like it where blackberry marsala
Then lick the excess off my lips
So as not to waste one drop of it's sweetness
I satisfy my wonderlust
With the wildness of the night and the comfort of myself
I've taken up hedonism as a hobby
And have made it harder for the next man to step into my life without a plan
For how to please me better than I pleased myself
So if you've come without a plan, than make a swift retreat cause

Lonely can be sweet, lonely can be sweet
My soul's music, my life beat
Lonely can be sweet, lonely can be sweet, lonely can be sweet
My soul's music, my life beat
Lonely can be sweet





25 de junho de 2013

24 de junho de 2013

"Invictus" de William Ernest Henley (1849-1903 Inglaterra)


Invictus

Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

Invictus

Desta noite que me cobre
Negra como um poço de borda a borda
Eu Agradeço a quaisquer deuses que hajam
Por minha alma inconquistável

Na cruel garra da circunstância
Eu não recuei nem gritei
Sob os golpes da sorte
Minha cabeça está ensanguentada mas não curvada

Além deste lugar de fúria e lágrimas
Surge apenas o horror da sombra
E ainda com a ameaça dos anos
Encontra, e há de encontrar-me, sem temor

Não importa quão estreito o portão
Quão carregado de punições o pergaminho
Eu sou o mestre me meu destino
Eu sou o capitão de minha alma.
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